Bloco dos mascarados
Conheça o carnaval de máscaras de um vilarejo no Espírito Santo através deste ensaio fotográfico feito na rua, cara a cara com brincantes e foliões
Texto e fotos: Gustavo Serrate
A beleza da festa de carnaval está na singularidade de cada região. Talvez por isso, para mim, quanto mais distante do grande carnaval transmitido pela imprensa, melhor. As pequenas manifestações da cultura popular são ricas, com uma profundidade arraigada na história local.
A Barra do Jucu é uma vila de pescadores de aspecto idílico, situada no município de Vila Velha. O acesso é por uma entrada discreta na Rodovia do Sol, a estrada que atravessa quase toda a parte litorânea do Espírito Santo. A maioria dos moradores se conhecem e mantêm a tradição do Bloco dos Mascarados de outros carnavais.
A festa de mascarados tem origem Européia. É uma tradição brincante que nunca se apaga, porquê por algum motivo o ser humano adora máscaras. É como no caso dos palhaços:
“A máscara do palhaço é a que mais revela”
Os mascarados de carnaval nada mais são do que bufões, que uma vez por ano saem as ruas brincando e se entregam a uma rebeldia caótica que não faz parte da vida cotidiana. É o momento em que homens de família, pais, tios, irmãos e avós brincam como se fossem crianças.
E ali naquele lugarejo a tradição que veio da Europa se abrasileirou. Em uma vila banhada pelo mar, com entrada do rio Jucu, mangues e brejos, as pessoas se reuniam há muitos anos para sentar em roda e narrar contos de monstros e bichos papões. Os monstros dos causos acabaram virando temas das fantasias, que geralmente são feitas com corcundas, e caras cheias de brotoejas, narizes gigantes, cabeleiras horríveis e olhos esbugalhados. As fantasias são livres. Há até quem traga máscaras dos Bate-bola do Rio de Janeiro, mas o mais comum ali são as máscaras feitas de papel, pela própria comunidade.
Na Barra do Jucu acontece assim: um dia antes do Bloco dos Mascarados, parte do grupo já se desloca para o matagal, em uma entrada secreta e passam a madrugada lá, onde já começam bebericando e levam marmitas, pois serão muitas horas de concentração. Quando amanhece, mais pessoas vão chegando, trazem sacolas cheias de roupas, máscaras e perucas. Dentro do mato já começa o espírito de mascarado bufão, jogam terra uns nos outros, bebem cana, riem, gritam e se jogam no chão. Tudo isso é um aquecimento para o carnaval. Quando o sol começa a baixar, os mascarados vão para as ruas em torno de um boi de pano, que corre junto com os mascarados e avança em direção aos foliões.
E assim o povo da Barra do Jucu faz sua folia todo ano, neste curioso rito de máscaras, que parece inerente a natureza humana, e por isso se recusa a morrer.

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